Fazendo e aprendendo: os primeiros Malzonis

DKW Malzoni GT Tipo I

Para fazer seu primeiro carro GT, Rino Malzoni optou pela mecânica DKW, marca que oferecia como vantagem inicial utilizar um chassi separado da carroceria. A tração e o motor eram dianteiros e este, apesar de ter apenas um litro de cilindrada, era dois tempos e disponibilizava, de série, em torno de 50 cv. Comparando, o motor VW 1.2 da época tinha 30 cv, apesar dos 1.200 cm³ de deslocamento.

primeiros carros
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Imagens do protótipo DKW Malzoni GT 2+2 Tipo I em 1963.

Dois homens-chave na criação dos Malzonis foram Pedro Molina e Francisco Vaida. Os dois funileiros foram recrutados na vizinha Araraquara – Molina em primeiro lugar – e tinham como característica comum a versatilidade. A equipe também incluía mecânicos, pintores e eletricistas – o que fosse necessário para realizar os projetos do patrão.

A criação do primeiro GT Malzoni – e dos imediatamente seguintes – envolveu um processo simultâneo de aprendizado. O primeiro carro levou quase dois anos para ficar pronto, com as peças sendo confeccionadas e modificadas inúmeras vezes. Na parede da oficina ficava um desenho em tamanho real do perfil do carro – constantemente modificado.

Rino começou o projeto com uma estrutura de ferro de construção com suas linhas básicas. Assim definiu na prática a altura do teto, colocando um banco em seu interior, a inclinação do para-brisa e a posição do painel. A armação foi então coberta de papelão e, com as formas definidas, começou a moldagem a martelo das peças da carroceria.

O modelo, tipo 2+2 (com dois lugares pequenos no banco traseiro) ficou pronto em 1963. Uma alteração mecânica importante que trazia era o deslocamento da alavanca do câmbio de quatro marchas, originalmente na coluna da direção, para o assoalho.

Evolução: o tipo II

O segundo modelo, chamado GT Malzoni Tipo II, era uma versão bem mais evoluída, a começar pelo encurtamento do chassi, que deu ao carro uma agilidade que ficou lendária nas pistas com curvas mais fechadas. Seu grande incentivador foi Marinho – Mário César de Camargo Filho – primeiro piloto da Equipe Vemag. Foi ele que, após conhecer o modelo 2+2, procurou Rino na fazenda e o convenceu a construir a nova versão.

Marinho acompanhou passo a passo o desenvolvimento do carro, inclusive sugerindo alguns detalhes, como o rebaixamento do teto. Ainda com carroceria metálica, o novo GT Malzoni foi comprado por ele e, imediatamente, cedido para a Equipe Vemag e testado com sucesso em algumas corridas.

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GT Malzoni TIpo II no 1º Quinhentos Quilômetros da Guanabara, em 19 de outubro de 1964. Piloto: Marinho Camargo.

Houve duas outras versões ainda de chapa de aço. A última, o Tipo IV, serviu de base para criar o molde para fazer o GT Malzoni em fibra de vidro, muito mais leve. Encomendados pela equipe Vemag, foram feitas três unidades iniciais, com a assessoria do especialista em fibra – na época uma tecnologia ainda pouco difundida no país – Celso Cavalari.

O passo seguinte foi preparar o Tipo IV para expor no Salão do Automóvel de 1964, o que exigia um acabamento bem mais requintado. O protótipo, que chegou a ser pintado nada menos que cinco vezes até ser aprovado, acabou chegando atrasado ao evento, mas foi um dos grandes destaques naquele ano.

Fabricação comercial

O GT Malzoni de fibra levou à criação de uma empresa chamada Lumimari, constituída por Rino, Marinho, Milton Masteguin e Roberto. O carro, com o logotipo DKW Malzoni, era oferecido em duas versões, a denominada “Espartana”, com acabamento rústico e destinada às competições e outra, mais refinada, com bancos de couro e forração interna, para uso no dia-a-dia.

Poucos exemplares desse primeiro Malzoni “comercial” chegaram a ser feitos – não há um número certo, mas estima-se que tenham sido entre 43 e 45. O certo é que o carro arrematou grandes elogios de todos os que o testaram, como se pode verificar nas revistas especializadas da época.

Por volta de 1966, o molde usado para produzir o GT Malzoni se encontrava desgastado e, aproveitando a necessidade de substituí-lo, Rino partiu para a criação do modelo seguinte, com o apoio do amigo e designer Anísio Campos e de Jorge Letry, ex-chefe de competições da Vemag, que supervisionava a fabricação da Puma – novo nome que substituiu a marca Lumimari.

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Puma DKW desenvolvido por Anísio Campo sob supervisão de Rino Malzoni e Jorge Lettry. O modelo foi produzido com carroceria de fibra de vidro.

Anísio Campos, também piloto, era um amigo muito próximo de Rino. Sem nunca ter feito parte ou executado trabalhos remunerados para a Puma, ele conta que, volta e meia, era “convocado” para passar alguns dias na fazenda, onde transferia para o papel as ideias de Rino numa mesa da sala, durante longas conversas. Esta interação levou muitos a atribuírem a Anísio a criação de alguns modelos criados por Rino Malzoni.

Voltado para o uso diário, com linhas mais suaves, medidas mais precisas e acabamento bem melhor, o Puma GT teve sucesso imediato e reforçado ainda mais por receber o prêmio de Carro mais Bonito do Brasil num concurso promovido em 1966 pela revista Quatro Rodas, que teve no júri a participação do carrozziere italiano Nucio Bertone.

O sucesso repercutiu imediatamente nas vendas: 135 unidades do carro foram comercializadas rapidamente. O número certamente poderia ter sido bem maior se a Volkswagen, que havia comprado na Alemanha a Auto Union e, em seguida, a Vemag no Brasil, não tivesse encerrado a fabricação dos DKWs. Para a Puma, foi um momento de crise, com risco de fechamento. Mas a iniciativa de Rino não permitiu que isso acontecesse.

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