GT Malzoni DKW

Nascido para correr

As três primeiras unidades do GT Malzoni DKW foram fabricadas a pedido da Equipe Vemag. Assim, o carro nasceu com um propósito definido: competir. E assim foi.

Os três primeiros Malzonis brancos logo iriam se destacar nas pistas. Os resultados obtidos por eles resultaram em encomendas e na montagem de uma estrutura capaz de atende-las.

A década de 1960, quando o GT Malzoni DKW surgiu, é conhecida como “Os Anos de Ouro” do automobilismo brasileiro e foi marcada por uma saudável rivalidade entre as marcas que acabavam de se instalar no Brasil: além da DKW, a Willys (com os Renaults e Interlagos), a Simca e a FNM (com o Alfa Romeo JK). Extraoficialmente, a VW figurou brilhantemente, com os Karmann-Ghia Porsche da concessionária paulista Dacon.

A Vemag era uma das equipes mais aguerridas. Os DKWs tinham o diferencial da tração dianteira, exótica na época, que os beneficiava principalmente em pistas de rua e quando chovia. Mas seus motores tinham apenas 50 cv de série e, mesmo obtendo maior potência de motores preparados – a equipe chegou a obter 100 cv – os carros eram pesados, ficando para trás em termos de velocidade nas retas.

Mais leve e mais aerodinâmico, o GT Malzoni DKW abriu novas perspectivas para a equipe. A estreia nas competições foi ainda com o Tipo II, de chapa de aço, em 19 de julho de 1964, em Interlagos. Marinho conseguiu o quinto lugar na prova Seis Horas ABCAT, mas o carro quebrou. Na semana seguinte, o Malzoni deu show nas ruas da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, duelando com o poderoso Karmann-Ghia Porsche. Mas voltou a quebrar.

GT Malzoni DKW

Acima à esquerda O GT Malzoni passa pela curva 1 de Interlagos entre o Karmman-Ghia Porsche da equipe Dacon e a berlineta da Willys. Acima à direita na preparação para largada: Rino conversando com Marinho, observados por Crispim.

A primeira vitória foi em outubro, no GP Simón Bolivar, em Interlagos, seguida por um terceiro lugar nos 500 Quilômetros da Guanabara, atrás do Alpine 1.300 de Wilson Fittipaldi Jr. e do Interlagos de José Carlos Pace e Vitório Andreatta, ambos da Willys.

O primeiro GT Malzoni com carroceria de fibra de vidro, 150 kg mais leve, estreou em Recife, em março de 1965. Em maio, o carro correu no Rio e chegou atrás apenas dos dois poderosos Abarths importados pela equipe Simca, resutado que se repetiu no mês seguinte, nas Seis Horas de Interlagos. Em setembro, no GP do Quarto Centenário do Rio de Janeiro, chegou em segundo, atrás apenas da Ferrari 250 GTO de Camilo Christófaro.

A segunda vitória veio nas ruas de Piracicaba, numa prova em que os Malzonis de Marinho, Eduardo Schurachio e Francisco Lameirão deixaram para trás os KG Porsche da Dacon. A partir daí os três protótipos brancos não deram mais trégua aos adversários. Mesmo pouco potentes, quando não os superavam nas curvas fechadas eram uma verdadeira “sombra” em seus calcanhares.

Além dos pilotos paulistas que corriam pela Vemag – Marinho, Francisco Lameirão, Eduardo Schurachio e Anísio Campos – um destaque pilotando o Malzoni foi o carioca Norman Casari, que foi bicampeão carioca com o carro em 1967, superando adversários com uma Ferrari GTO, Alfa GTA e um dos KG Porsche originalmente da Dacon.

GT Malzoni DKW

No 5º Circuito de Piracicaba, o desfile dos vencedores Marinho Camargo (nº10), Eduardo Scuracchio (nº9) e Chico Lameirão (nº11), em 8 de agosto de 1965.

Outro piloto a destacar foi o gaúcho Henrique Iwers. Na prova de estrada Antoninho Burlamaqui, em 1968, ele ficou em quinto lugar e, no mesmo ano, foi terceiro nos 500 Quilômetros de Porto Alegre, atrás apenas do BMW de Chico Landi e Jan Balder – um carro amplamente superior – e brigando até o final com a lendária carretera Ford de Vitório Andreatta.

Os Malzonis, da Vemag e de particulares, disputaram pelo menos 54 corridas, obtendo quinze vitórias, doze segundos e sete terceiros lugares. Os números podem ser maiores, pois os registros da época não são muito precisos.

Algumas corridas foram épicas, como o GP Faria Lima, em Interlagos, disputado em três baterias. Francisco “Chiquinho” Lameirão venceu a primeira e chegou em segundo na segunda. Foi um show de pilotagem envolvendo Lameirão e José Carlos Pace, que corria com o Karmann-Ghia Porsche da Dacon. Nas retas, Pace abria vantagem e, no miolo, o Malzoni encostava. Na terceira bateria, uma pedra furou o radiador do Malzoni, que teve que parar.

Outro episódio lendário foi o final das Mil Milhas Brasileiras de 1966. A prova foi liderada durante toda a madrugada pelo GT Malzoni conduzido pelos dois jovens pilotos Emerson Fittipaldi e Jan Balder, seguido pelo pilotado por Marinho e Schurachio. Em terceiro, a poderosa carretera Chevrolet Corvette de Camilo Christófaro e Eduardo Celidônio, com um motor de nada menos que sete litros de cilindrada.

GT Malzoni DKW

A chegada em terceiro lugar, de Emerson e Balder, na Mil Milhas de 1966.

Na última parada para reabastecer, o motor do GT Malzoni líder se recusou a pegar e Balder e Fittipaldi perderam muito tempo nos boxes e caíram para o terceiro lugar. Marinho, que havia assumido o volante para terminar a prova, passou a ser o primeiro, com a carretera se aproximando cada vez mais. O final foi cinematográfico: Celidônio tomou a ponta na entrada da reta de chegada, sem chance de reação para Marinho. Uma corrida até hoje relembrada por quem viu e contada – em várias versões – em inúmeras crônicas da época.

Próxima página: As feras – Puma, Onça e Carcará